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Arquitetos: Barao Di Sarno, Zoom Urbanismo Arquitetura e Design
- Ano: 2020
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Fotografias:Maíra Acayaba
“As casas costumam ser pensadas a partir dos seus cômodos, enquanto deveriam ser concebidas a partir de seus usos.”
Ao pensarmos em casas, estabelecemos padrões e associações como áreas externas e internas, sociais e íntimas, secas e molhadas, onde a delimitação dos espaços decorre de um mínimo programa de necessidades com sala, quartos, cozinha e banheiro. E ao pensar em cada cômodo, também é possível reconhecer padrões na espacialização e ocupação: sala com sofá e estante, quartos com cama e armários, cozinha com armários e bancada.
Embora os padrões partam de nossas necessidades, com o tempo, tais se tornam postulados e raramente nos questionamos se ainda se adequam às reais necessidades. Assim, se pudéssemos analisar os usos de uma casa por meio de um mapa de calor, facilmente visualizaríamos ambientes de uso intenso e frequentemente ociosos.
Com o tempo, os usos de uma casa são diversos e diferentes dos convencionalmente pensados por suas atividades básicas, principalmente se consideramos um cenário pós pandemia de COVID-19. Para muitos, a casa se tornou local de trabalho, academia, mercado e até festa. A tipologia ‘casa - residência unifamiliar’ não contempla tantos usos, por isso, há necessidade de flexibilidade e adaptação a diversas demandas.
Buscando atender as diferentes demandas de seus moradores num terreno desafiador de apenas cinco metros de largura, o projeto estabelece três princípios: maximização do uso com espaços que possam ser utilizados todos os dias, evitando ociosidade; ambientes flexíveis para diferentes usos atendendo a diversas demandas; móveis multifuncionais integrados à arquitetura da casa;
O térreo da casa se divide entre uma parte social e híbrida. A convencional sala de estar se torna também estúdio de dança e principal espaço de celebração, aberto a múltiplas configurações e interações. As configurações e adaptações são balizadas pelo móvel multifuncional que condiciona as variações do ambiente, podendo ser utilizado como escada, arquibancada, baú e mesa. A garagem assume a função de foyer em contextos nos quais o estúdio recebe eventos e apresentações, e a parte híbrida composta pela cozinha, lavanderia, despensa e quintal, se torna coletiva ou privativa conforme desejado.
A porta intermediária que separa a cozinha e lavanderia é quem permite reconfigurar o programa da casa, visto que quando fechada, o estar/estúdio se torna independente tendo o lavabo como camarim. Nesse contexto, o acesso privativo se dá diretamente ao segundo andar, mantendo o estar/estúdio isolado, permitindo preservar a intimidade do ambiente doméstico e coabitável com funções sociais e educacionais. Quando a porta intermediária está aberta, o térreo se torna interligado assumindo uma configuração familiar, sendo ideal para festas e confraternizações.
A escada interna, que também tem seus espaços aproveitados como despensa, permite acessar um pavimento intermediário e superior. O pavimento intermediário é um volume de madeira que abriga um espaço auxiliar e flexível às necessidades como sala de tv, quarto de hóspedes, ou escritório, suas aberturas permitem uma conexão interna e externa, integrando-o à cozinha, escada, corredor superior e jardim. O pavimento superior corresponde ao espaço privativo, contendo a suíte integrada ao escritório e terraço, corredor com armários, um banheiro e quarto frontal. O quarto frontal possui um nicho de concreto integrado aos móveis do quarto, emoldurando a perspectiva da cidade para o quarto e cenas da casa para a cidade.
Para compensar o terreno estreito, o projeto se vale do uso de pé direito alto, da integração de cômodos e do uso de abertura zenital para conferir conforto e amplitude aos espaços. Ao adotar materiais diversos - rústicos e sofisticados, ásperos e lisos, foscos e brilhantes - o projeto convida o usuário a uma experiencia multissensorial.